terça-feira, 27 de abril de 2010

Norte nem sempre é referência! Episódio 1: Canadá

Que tal viajarmos um pouco? Nada mal, conhecermos outras culturas. Hoje iremos conhecer o Canadá. Mas não aquele Canadá que você conhecer perfeitamente, um país tranquilo, com altos benchmarks econômicos, cidades lindas e grande movimentação de capital nos centros urbanos, como Montreal, Quebec, Vancouver e Edmonton. Afinal um país de dimensões quase que continentais não pode ser totalmente homogêneo. E a partir de hoje, começarei uma série de matérias falando desses lugares ao norte que possuem grande parte do seu território abandonado pelo restante da massa. Vamos então a nossa primeira parada!

[caption id="attachment_84" align="alignleft" width="300" caption="É pequeno ele não é... e nem perfeito em todos os cantos!"][/caption]

O Canadá é o segundo maior país do mundo, perdendo apenas para a Federação Russa (que em breve, entrará nessa série de materias). Ocupa quase toda a parte superior da America do Norte, tendo boa parte de suas fronteiras partindo do paralelo 50 se estendendo até o ponto mais setentrional do Arquipélago Ártico Canadense. Mas apesar das dimensões, é um país com 10% da população americana, e ao contrário do vizinho de baixo, possui apenas 10 unidades de federação, sendo sete províncias, e três territórios. E são nesses últimos que nossa matéria vai focar hoje. Vamos falar da parte esquecida deste imenso país, os territórios de Yukon, Territórios do Noroeste e Nunavut, além de colocar no mesmo o contexto, o norte do território de Quebec, e a área do Labrador, que faz parte da província de Terra Nova e Labrador.

Os terrtórios e as provincias do Canadá são separadas rigorosamente, pelo paralelo 60. Só por isso já da para se ter a ideia dessa extensa área ao norte. Só a parte de cima do Canadá somada, já dá o quase o tamanho da União Europeia inteira. Mas apesar de ter todo esse tamanho, a população é baixa, com pouco mais de 100.000 habitantes. São pouquíssimas cidades, algumas mais próximas e outras um tanto distantes, e algumas até inacessiveis por terra. Um dos fatores que torna a população escassa é justamente o clima. Boa parte dessa área está acima do Círculo Polar Ártico, e durante boa parte do ano, as temperaturas são baixas. No inverno então, nem se fala. Em alguns pontos, a temperatura chega perto dos -50°C. Nos centros urbanos de grande porte, como Dawson City, ou Whitehorse, em Yukon, a média no inverno, fica por volta dos -20°C. Isso de certa forma dificulta o cultivo de muitos produtos e torna dificil o comercio. O turismo é algo pouco difundido mas que está começando a dar seus primeiros passos. Pouco difundido, porque em alguns lugares, é tão frio, que até esquiar é punk!

[caption id="attachment_85" align="alignleft" width="300" caption=""- Que tal nadar um pouco? Deve ta uma delicia!" Créditos: Wikipedia"][/caption]

Devido a escassez de cidades, começam os grandes problemas. O sistema de estradas ods territórios canadenses, e como eu disse anteriormente, do Labrador e do norte da provincia de Quebec, é muito deficiente, não interligando as cidades em si de uma maneira uniforme. A maioria das localidades são geralmente vilas inuites, que abrigam os antigos habitantes nativos do Canadá, descendentes dos esquimós. Estas nem sequer tem acesso via terra, pois são completamente isoladas, ficando as vezes, em acidentes geográficos, entre rios, ilhas intercontinentais ou em restingas a beira do ártico. Só para se ter uma ideia, o território de Nunavut, que tem mais de 90% da população de Inuits, possui uma área quase o dobro do estado do Amazonas, e possui apenas... 20km de rodovias... Não, eu não errei e deixei faltar zeros. São apenas 20km mesmo. Não me pergunte onde estão, porque eu até hoje não achei no Google Earth, além desse resquicio nem sequer ser asfaltado, e sim

[caption id="attachment_86" align="alignleft" width="300" caption="Yukon College, a maior referência de ensino do norte canadense!"]
São raros os lugares que os nativos podem sonhar em ter carro! Créditos: www.flickr.com/photos/hyougushi

de terra enlamaçada no verão e de neve pura no inverno. Isso dificulta a chegada de coisas que no país todo é abundante e o restante deste pessoal fica totalmente pobre: alimentos industrializados, produtos importados e internet de qualidade, já que até o traslado aéreo são os olhos da cara. Muitos lugares custam ter internet discada, ou até mesmo, uma linha telefônica.

Consequentemente, é muito dificil ver o inuit se destacando em competições esportivas, ou aparecendo como destaque na imprensa canadense. Não há sequer grandes investimentos nessas áreas, e mais precisamente, em Nunavut, a população é muito pobre. E junto com a pobreza, juntam-se diversos problemas sociais, como alcoolismo, violência doméstica, mercado de trabalho deficiente, e alto índice de suicídios. A educação é para poucos nesse terrítórios. Nos Territórios do Noroeste e em Yukon, com melhor acessibilidade e comunicação com o resto do Canadá por terra, isso muda de certa forma. Inclusive, em Whitehorse, capital de Yukon, se situa o Yukon College, grande referência de intercâmbio para níveis médio e superior, principalmente entre americanos e brasileiros, e usando justamente a sua localização setentrional como atrativo para atrair estudantes que quase sempre procuram intercâmbio nos principais centros urbanos do país, como Toronto e Vancouver.
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A geografia do país, não colabora muito para que esse quadro mude. O país tem uma malha de rios gigante e tem o mapa mais acidentado do que o Andrea de Cesaris em 1981, impossibilitando a construção de estradas. É uma pena, ver um país tão bonito, com uma área tão linda que é o sul, com um vazio tão grande no norte, em meio a pobreza e desigualdade em alguns pontos e falta de investimento em outros.

Mas nem tudo no norte Canadense é reclamavel não. Claro que não. A área central dos territórios do Noroeste e de Yukon possuem enormes reservas de recursos naturais valiosos, como Petróleo e Gás Natural. Prova disso é que Yellowknife é uma das cidades com maior renda per capita do planeta, chegando a CA$ 50.000 anuais. E as mudanças climáticas (infelizmente mas ao mesmo tempo, felizmente) estão permitindo ao homem explorar esses recursos para poder melhorar a situação dessa parte setentrional do país, modernizando as cidades, e melhorando a qualidade de vida da população. Bem que esse exemplo poderia se repetir no (realmente) desprezado Nunavut. A população inuit ajudou a construir a história do Canadá e apenas criar um território e jogar o povo de lado, deixando-os comer carne de foca congelados, e permitindo a população sucumbindo pelo alcoolismo, são coisas que reforçam a desigualdade e nivelam a consciência dessa nação por baixo!

Abraços!

Na próxima semana, falaremos da região asiática da Russia! Não percam!

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