segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Onde não há espaço ao invés de espetáculo, há tragédia!

Shinji Nakano, Forth Worth, 2001. O perigo visto a tempo: corrida cancelada.


Forth Worth, Texas, 2001. O que era pra ser uma das corridas mais fodas da história da Indy-Cart (já que na época as categorias eram separadas), se transformou em um alerta geral no esporte: a corrida fora cancelada duas horas antes da largada, devido a alta velocidade média do circuito, que em alguns sprints, passava dos 380 km/h. Os pilotos começavam a se sentir mal depois de algumas voltas, fazendo com que os mesmos perdessem até o senso das cores da visão e de profundidade, provocando inclusive diversos acidentes fortes durante os treinos. Muitos fãs,  todavia muitos outros acharam a decisão dúbia, alegando que o automobilismo sempre terá o seu risco e que o espetáculo não pode parar... Não pode?

Pois é. Mas este domingo vimos qual a consequencia de colocarmos numa pista velocíssima e estreita, um número alto de monopostos. E o pior: o mundo viu isso da pior maneira possivel hoje. A tão badalada corrida de encerramento da temporada 2011 da Formula Indy, no oval de 1.5milhas de Las Vegas, no Estado de Nevada seria marcante: primeiro, por que seria a última corrida com os chassis Dallara que estão na categoria a quase uma década. Segundo, era a decisão do título entre Dario Franchitti e Will Power; terceiro: por que os pilotos que foram convidados a pilotar e que não correm na categoria regularmente, estariam concorrendo a um premio de US$ 5 milhões caso vencessem a maratona de 200 voltas.  No começo, vários pilotos se ofereceram, mas no final das contas, o único convidade foi o inglês Dan Wheldon, campeão da Indy em 2005 e vencedor das 500 milhas de Indianapolis por duas vezes. Wheldon largaria na última posição do grid, em 34º. Aí já começa a cagada de todo esse final de semana. 34 carros em um oval de 2.425 metros? Isso parece inseguro não é mesmo? Seria no mínimo um aperto, já que nem as 500 milhas com 2.5 milhas possui esse número de monopostos na grelha. Mas é inevitavel dizer que, o telespectador não pensa nessa questão. Ele pensa geralmente que, quanto mais carros, melhor, mais disputa. Mas a coisa não funciona assim.

Las Vegas Motor Speedway: o cenário da tragédia


O cenário da destruição: Carros voando, fogo e o pior ainda
estava por vir.
O que sobrou do carro de Wheldon. A marca negra no capacete
deixa claro a intensidade da pancada.
E começa a prova: Kanaan largando na pole, mantém a ponta, Will Power lá atrás, numa corrida de recuperação tenta ganhar posições. Na décima volta, Sebastian Saavedra perde o controle do seu carro na curva 1 e começa a tragédia: vários carros perdem o controle, batem, rodam, o carro da Penske de Will Power decola, passa por cima de vários carros e vai pro muro. Wheldon que já ganhara 10 posições, estando em 24º passa por cima de outro carro, decola e bate no alambrado de lado, e cai de volta a pista. Fogo, carros destruídos, cenário destruidor: era uma verdadeira cena dantesca. Os narradores da ABC americana chamaram a atenção para  intensidade da pancada. No começo não houve preocupações com ninguém em específico, pois o foco era que Will Power perdia as esperanças do título. Mas a partir do momento em que a bandeira vermelha foi acionada, a situação começou a preocupar. Wheldon fora resgatado inconsciente do seu carro, com uma enorme mancha preta no seu capacete, sendo entubado ainda na pista. Quem acompanha sites de automobilismo como o Grande Premio e seus jornalistas, destacando o excelente trabalho do caro Vitor Martins (@vitonez), via que as informações que chegavam não eram nada otimistas. A organização da Indy omitia noticias, não dava boletins sobre o estado de Wheldon, deixando todos apreensivos. O que ninguém esperava, infelizmente aconteceu: Daniel Clive Wheldon, 33 anos, não resistiu aos ferimentos e acabou por falecer no Hospital Central Universitário de Las Vegas. Uma noticia devastadora, que fez com que pilotos, equipes e telespectadores desabassem, afinal, era mais uma tragédia acontecendo no automobilismo, mais um esportista que fazia o que gostava, vencia, comemorava, era bem querido por todos deixava esse mundo de forma trágica. A corrida não recomeçou e o diretor da Indy disse a todos os pilotos para correrem cinco voltas sob Pace Car para homenagear Wheldon.

Wheldon comemorando sua última vitória, em Indianapolis neste ano.
Aí agora vem a torrente de perguntas: Até quando? Até quando teremos que continuar perdendo esportistas fazendo aquilo que move o sangue que corre em suas veias? Tá certo que os carros da Indy são seguros, mas porra... 34 carros num oval daquele tamanho, com uma média semelhante à pista do Texas. Era praticamente um chamariz pra merda, colocar tantos corredores, numa prova inaugural desse oval (A IRL correu lá em 2000, mas eram outros tempos). Foi besteira colocar esse tanto de carros? Claro que foi. Mas como sempre, dinheiro fala mais alto no automobilismo, e não se tem em mente dos riscos que um corredor pode estar correndo com 10, 12 carros a mais do que um grid habitual. Como já havia citado no Twitter, se tal affair estivesse prestes a acontecer na CART, simplesmente não aconteceria, igual ocorreu no Texas, na qual citei no começo deste post. Joseph Heitzler, presidente da CART na época enxergava esse lado com mais humanidade do que Randy Bernard. Enquanto isso, o atual presidente teve que ser o anunciante da triste noticia. É foda. Uma fatalidade que de certa forma poderia se prever.

Mas isso não foi o pior. Se teve um lugar onde o dinheiro, movido pela audiência foi mais colocado em primeiro plano foi na Rede Bandeirantes do Brasil, detentora (?) dos direitos da IndyCar IZOD no Brasil. A corrida como todos sabem e não é nenhuma novidade, não seria transmitida ao vivo pela emissora, apenas o VT, a partir das 19h45 de domingo. Aí vejam a cena: eu, acompanhando pelo Twitter e super preocupado com o Dan, chego em minha casa as 19h20 e vejo aquele sensacionalista ridículo do Milton Neves falando sobre a rodada do Brasileirão. Tá, até aí normal. Mas ia intervalo, voltava, e nada da rede divulgar uma só noticia sobre o acidente. E o pior: as 19h35, passa um comercial, anunciando a corrida da Formula Indy: "daqui a pouco, só aqui na Band!". Porra, segurar audiência desse jeito é mesmo uma coisa muito desumana, como se nada tivesse acontecido. Imagina como se sente um torcedor brasileiro do Dan Wheldon que não tem acesso à redes sociais. Realmente, o VT começou as 19h45, mas foram exibidas 10 voltas, o acidente e depois de um intervalo, já volta o Téo José anunciando a morte do inglês, assim sem mais nem menos. Uma coisa totalmente non-sense. Admiro muito o jornalismo do Téo José, mas ele não merece a emissora que paga o salário dele. Um momento tão difícil para os amigos, para a família do corredor, para os fãs e jornalistas profissionais ou amadores (o meu caso) de automobilismo, e a emissora que carrega a Indy nas costas desde 2000 consecutivamente trata de maneira tão banal, pra segurar audiência. É dificil, é difícil.

Conclusão de tudo: a Indy perdeu um dos seus melhores filhos, bicampeão em Indianapolis, pai de familia, amigo de todos; o oval de Las Vegas perdeu a sua reputação; a Band perdeu a noção de transmissão desportiva. Foi um dia dificil para todos nós, mas que poderia ter sido evitado, com um número menor de carros no grid e sem tanto apelo de velocidade que fazem pilotos correrem em pistas novas igual um bando de porras-loucas. Só resta agora torcer para que isso não aconteça mais, pois cada fatalidade tira um pouco do glamour, da paixão do esporte a motor. É inconcebível que um piloto, em 2011 morra num acidente, mas tragédias acontecem. Não há carros totalmente seguros e nem riscos que ninguém possa correr, afinal não somos imortais. Quanto ao grupo Bandeirantes, só tenho a dizer que precisam gerenciar melhor a sua programação. Porra, se um piloto da categoria que a emissora transmite está na beira da morte, por que não informar ao telespectador? "Ah, é por que aí, vão descobrir que não é ao vivo, já que futebol é mais importante!". Estão realmente no caminho para um sistema falido: botando sempre um esporte popular demais em primeiro plano, o resto que se foda. A emissora já é algo de reclamações constantes por transmitir uma temporada aos poucos, uma corrida aqui, outra no meio do ano, enfim, uma merda. Mas a transmissão de hoje deixou (e muito) a desejar.

No mais, que o nosso querido inglês, que pilotava demais, do sorriso aberto (até muito não acham?) descanse em paz e que esteja sempre olhando pelos pilotos que hoje, lamentaram a sua perda para esse esporte que tanto nos move, mas que tanto nos deixa com medo do risco: o automobilismo. É isso... Dia triste, mas como dizia Guilherme Arantes: "(...) infelizmente nem tudo é, exatamente como a gente quer!"

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